O livro " O Cortiço" do escritor Aluísio Azevedo é sem dúvida nenhuma um romance inquietante, de narrativa linear (começo, meio e fim) seguindo o tempo cronológico dos acontecimentos, o autor conta uma história com um número enorme de personagens, que a princípio poderia desorientar o leitor tornando a leitura cansativa. Mas o que se constata é um romance fluido, de narrativa dinâmica e enredo envolvente, tornando a leitura muitíssimo prazerosa.
O autor com uma sensibilidade impressionante, (se levarmos em conta o ano e o contexto histórico em que o romance foi escrito) joga luz sobre um sério problema da sociedade à época, que era o abandono de parte da sociedade pelas autoridades constituídas, eram pessoas invisíveis, que por necessidade criavam uma comunidade a margen da sociedade e suas regras. E por incrível que possa parecer, esses mesmos problemas continuam até os dias atuais à atormentar de modo persistente a sociedade atual.
Gostaria de chamar à atenção para uma passagem do livro já no final do romance. Em dado momento, depois do personagem principal (João Romão) ser o pivô de acontecimento que levou à morte uma escrava que por anos o sérviu dedicadamente. "Nesse momento parava à porta da rua uma carruagem. Era uma comissão de abolicionistas que vinham, de casaca, trazer-lhe respeitosamente o diploma de sócio benemérito. Ele mandou que os conduzissem para a sala de visitas." Como podemos perceber, os séculos passam, muitas coisas mudam, mas não tanto assim. As vezes honrarias são criadas, pessoas são elevadas a paladinos de boas mudanças para sociedade, mas na realidade o desejo e as atitudes dos mesmos conspiraram para que tudo continue igual.
Precisamos ficar disciplinarmente atentos.
Descrição da Editora:
Publicado em 1890, O Cortiço põe olhos sobre os marginalizados: lavadeiras, trabalhadores braçais, malandros e viúvas pobres.
Esses tipos são guiados pelos instintos, vícios e sexo, determinados pelo meio miserável em que vivem.
O olhar darwinista de Aluísio Azevedo posicionou o romance como a expressão máxima do Naturalismo na literatura brasileira.
No Rio de Janeiro do século XIX, o ambicioso português João Romão põe em prática seu plano de riqueza.
Com trabalho duro, avareza e desonestidade, levanta um conjunto de 95 casinhas; o maior cortiço da região.
A vida não tarda a brotar desse chão, fervilhante. Um organismo autônomo formado por aquela gente amontoada em cubículos, em busca da sobrevivência.
O Cortiço é um retrato das mazelas sociais que atingiam a capital do Império, sob a visão cientificista de um escritor que levou ao extremo a estética realista da época.
Uma obra que continua atual, tanto em sua temática quanto em sua linguagem.
Sobre o autor:
Nascido em São Luís do Maranhão (MA), em 14 de abril de 1857, Aluísio Azevedo era filho de D. Emília Amália Pinto de Magalhães e do vice-cônsul português David Gonçalves de Azevedo.
Demonstrou, desde muito jovem, grande interesse por desenho e pintura, o que o levou a mudar-se para o Rio de Janeiro em 1876, a fim de matricular-se na Imperial Academia de Belas Artes. Para manter-se na capital, desenhava caricaturas para os jornais"
"Morto seu pai em 1878, retorna a São Luís, onde dá início à sua carreira de escritor no ano seguinte, com o romance Uma lágrima de mulher, ainda aos moldes da estética romântica. Trabalha também para a fundação do jornal O Pensador, publicação anticlerical e abolicionista.
Em 1881, lança seu primeiro romance naturalista, O mulato, abordando o assunto do preconceito racial. Bem recebido na corte, apesar da temática da obra ter sido considerada escandalosa, Aluísio embarca de volta para o Rio de Janeiro, decidido a ganhar a vida como escritor.
De volta à capital do Império, produz diversos folhetins, que garantiam sua sobrevivência. Nos intervalos dessas publicações, geralmente melodramáticas e românticas, dedicava-se à pesquisa e à escrita naturalista, que o consagrou como grande autor brasileiro. Foi nessa época que lançou suas principais obras, Casa de pensão (1884) e O cortiço (1890).
No dia 21 de janeiro de 1913 morria, em Buenos Aires, Aluísio Tancredo Belo Gonçalves de Azevedo.